domingo, 24 de julho de 2011

I Seminário GELF: um diálogo valioso sobre as línguas de fronteira

O I Seminário de Gestão em Educação Lingüística de fronteira no MERCOSUL encerrou seus três dias de trabalho experimentando um diálogo valioso sobre a língua e sobre as fronteiras no contexto da educação. A troca de experiências apontou para problemas e soluções comuns de realidades distintas, tudo ancorado na perspectiva da borda geográfica. Tendo recebido palestrantes de seis diferentes países, o I GELF colocou em contatos especialistas e profissionais das mais distintas situações sociolingüísticas. Os contextos latino-americanos fundiram-se as muitas realidades fronteiriças sob a condição permanente de diálogo. A temática da gestão das línguas coabitou com exemplos práticos, narrados detalhadamente por todos os participantes




Para Gilvan Müller, diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), tem havido um aumento exponencial da importância política e econômica das línguas. Para tanto, faz-se eminente o desenvolvimento de políticas lingüísticas conforme a pluralidade cultural do MERCOSUL, assentado sobre centenas de idiomas ameríndios e de imigração.

Rosangela Morello, diretora do IPOL – Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística -, defende as fronteiras como áreas habitadas linguisticamente, culturalmente, embora muitas vezes as bordas sejam associadas à idéia de cisão, prática muito estimulada durante as ditaduras latinas americanas.

Só para se ter uma idéia, no Brasil – em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas – mais de 20 línguas indígenas convivem sob o prisma de uma fronteira extremamente multicultural. A gestão do ensino em regiões como essas – embora necessitem de muita atenção – estimulam contextos riquíssimos de troca.

O I GELF propôs, nesse sentido, um canal permanente de diálogo. Tanto os profissionais quanto os especialistas tiveram a oportunidade de trocar contatos, compartilhar pesquisas e experiências pessoais e perceber nos casos uns dos outros semelhanças e diferenças fundamentais para entender o próprio contexto. Com este novo canal de comunicação aberto, a política de fronteiras pode ser discutida entre atores sociais de conjunturas totalmente distintas.

Gestores de educação

O exemplo de Eliane Araujo Fernandes - coordenadora da Escola Estadual João Brembatti Calvoso, na fronteira Brasil-Paraguai - é bastante ilustrativo. A gestora de educação de Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, está imersa num sofisticado contexto trilingue (português-castelhano-guarani). Como mesmo narra, depois que começou a envolver-se com a educação nas fronteiras, passou a articular melhor o entendimento dos processos de ensino. Hoje, motivada pela intensa vontade de superação, Eliane ajuda a manejar 10 turmas de alunos plurilíngues e toda uma estrutura pedagógica. A prática prevê a troca de professores fronteiriços, ou seja, todas as semanas os alunos da escola Escola Estadual João Brembatti recebem aulas em castelhano. O lado paraguaio beneficia-se do mesmo intercâmbio, recebendo semanalmente um professor de língua portuguesa.

Entretanto, o trabalho de ensino multilíngue encontra sérias adversidades. Por exemplo, preconiza-se que um aluno deve aprender outra língua pela via do idioma materno. Isso acaba por demandar gestões sofisticadas e muitas vezes onerosas, principalmente porque em zonas de fronteira podem conviver com conjunturas completamente distintas. Além disso, o processo de obtenção de uma segunda língua é bastante diferenciado do processo de obtenção da primeira, demandando toda uma estruturação pedagógica, o que acaba imprimindo a necessidade de professores aptos para lidar com ensino de quadros sofisticados como esses.

Manuel Tost, docente da Universidade autônoma de Barcelona, diz ter ficado impressionado com a paixão com que os gestores latino-americanos falam de educação, da forma com que tencionam aperfeiçoar os sistemas educativos das regiões nas quais estão inseridos. O professor ainda adianta que tanto União Europeia quanto MERCOSUL podem trocar várias experiências comuns, ainda que articulem-se sobre dinâmicas bem diferenciadas.

O Seminário foi realizado através de uma iniciativa do IPOL – Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística, do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e da União Latina (UL). A UNIOESTE apoiou o evento através da concessão da estrutura física para evento. O I GELF ocorreu entre os dias 20 e 22 de julho.

Dentre os convidados estiveram, Dolores Álvares, Diretora de Promoção e Ensino de Línguas da União Latina (UL); Lino Trinidad Sanabria, professor da Universidade Nacional de Assunção (UNA), Paraguai; Gabriela Clara Casal, representante do Departamento de Segundas Lenguas y Lenguas Extrangeras do CEIP (Consejo de Educación Inicial y Primaria), Uruguai; Andreas Villalva, assessor pedagógico da escola bilíngue número 2 de Puerto Iguazu, em Missiones, Argentina; Gilvan Müller de Oliveira, diretor do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e professor da Universidade Federal de Santa Catarina; John M. Lipski, professor de línguas hispânicas da Universidade Estadual da Pennsylvania, EUA; Manuel Tost, professor da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, Rainer Enrique Hamel, representante da Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Iztapalapa, México e Rosangela Morello, atual diretora do IPOL.

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